Competitividade dos Regimes: A Pesquisa do Fraser Institute
por Eduardo Vale A busca de uma visão integrada acerca da competitividade entre os países de vocação mineira é motivo de interesse internacional há muitos anos. Os primeiros ensaios ocorreram no final dos anos 60 e ganharam maior destaque ao longo da década de 70. Nesse período, em termos qualitativos, questões relativas ao risco político e à legislação mineral tinham grande notoriedade face ao viés da política mineral praticada em vários regimes em prol da participação do estado, assim como devido aos traumas provocados por casos de nacionalização e de expropriação. Sob a ótica quantitativa, esses aspectos combinados com a formalização de acordos de mineração com os governos em nível (ad hoc) de projeto enalteciam a relevância da carga tributária líquida efetiva e suas implicações no risco e no prazo de recuperação do capital a ser investido. Á época, essas questões eram abordadas de forma mais segmentada e específica não oferecendo uma visão comparativa integrada. Nos últimos 15 anos, começaram os primeiros experimentos de natureza multidimensional, procurando explorar um referencial que apontasse a competitividade relativa dos regimes mediante a combinação de atributos de natureza quantitativa e qualitativa. Inicialmente, essa abordagem foi aproximada em nível do processo decisório das grandes empresas com a adoção de metodologias de planejamento estratégico do tipo Matriz de Política Direcional. Ao final dos anos 80, essa abordagem metodológica ganhou relevo com o avanço do processo de globalização e com a maior disseminação das práticas de rating. Nesse período, merece destaque pelo seu pioneirismo a pesquisa conduzida pelo East-West Center, em nível do seu Minerals Policy Program. A pesquisa foi realizada em 1989 e contemplou 32 senior companies. Os atributos avaliados foram o potencial geológico e o clima de investimentos. A partir de 1997, a pesquisa anual realizada pelo Fraser Institute do Canadá passou a constituir uma referência internacional consagrada. O trabalho está apoiado no processamento quantitativo das opiniões dos executivos responsáveis pela atuação de dezenas de empresas de exploração. Seu objetivo fundamental é aproximar a competitividade relativa das diferentes jurisdições – países e unidades federativas selecionadas – na atração de investimentos para exploração e desenvolvimento. A primeira edição focalizou as províncias e territórios canadenses exclusivamente. Em 1998 foram incluídos 17 estados americanos, o México e o Chile. Mais recentemente, tendo em vista a popularidade alcançada pelo trabalho, a entidade optou por ampliar o número de regiões e, a partir de 2000, passou a aferir a atratividade de 45 jurisdições, entre as quais o Brasil. Sinteticamente, a metodologia empregada estima o indicador de atratividade de um país com base na combinação dos índices relativos ao seu potencial geológico (peso 60%) e à política pública potencial (peso de 40%), a saber:
Os resultados da última pesquisa podem ser acessados em http://www.fraserinstitute.ca. A seguir, apresenta-se quadro com o posicionamento relativo do Brasil no período 2003-2000.
Fonte: Fraser Institute.
Nos últimos anos, a exemplo dos relatórios de caráter geral preparados por entidades tais como IMD (World Competitiveness Yearbook) e o Fórum Econômico Mundial (The Global Competitiveness Report), em nível do setor mineral o relatório anual publicado pelo Fraser Institute passou a ser uma referência internacional obrigatória para os estudos sobre a competitividade dos países mineiros. A título ilustrativo, no Congresso Brasileiro de Mineração de 2003, pelo menos quatro das apresentações estavam apoiadas, ainda que parcialmente, nos seus resultados. Tendo em vista a ressonância alcançada pela pesquisa faz-se mister apontar, ainda que sinteticamente, alguns aspectos intrínsecos à metodologia que limitam sua eficácia e recomendam uma maior prudência no emprego dos seus indicadores. Entre esses aspectos merecem destaque:
Fonte: Fraser Institute. (1) Investimento realizado no ano anterior. (2) Participação da amostra nos investimentos regionais de exploração.
Conhecimento efetivo - se opera ou já operou no país;
Para uma empresa como a Freeport, por exemplo, a degradação na atratividade da Indonésia observada nos últimos anos é mais administrável face à sua longa tradição de operar no País. Por outro lado, a percepção de uma empresa junior que atua exclusivamente na exploração de ouro pode diferir substancialmente de uma empresa senior com orçamento mais robusto e enfoque mais diversificado. A bem da verdade, a inclusão das empresas juniors estabelece um viés fortíssimo para a exploração do ouro.
O grande desafio metodológico é o caráter multi-dimensional do ranqueamento no qual diferentes atributos devem ser ponderados de sorte a oferecer um indicador agregado que expresse a atratividade relativa do regime na atração de investimentos de longo prazo direcionados à exploração e ao desenvolvimento. Nesse contexto, a pesquisa anual elaborada pelo Fraser Institute representa importante contribuição às reflexões sobre a competitividade entre os regimes de vocação mineira e representa o ensaio mais elaborado que se dispõe para a consecução desse objetivo. Não obstante, sua metodologia apresenta inúmeras restrições que demandam maior reflexão e aprimoramento.
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