Presidente da Petrobras justifica loteamento de cargos na estatal

Jack Palance (1921-2006) era um ator americano que, para além de filmes como "Bagdad Café" e vários títulos de faroeste, tornou-se famoso no Brasil como apresentador do programa "Acredite se quiser", apresentado na finada TV Manchete. Nele, Palance apresentava alguns dos fatos mais bizarros da história, como a espingarda de canos curvos inventada pelos nazistas para atingir soldados inimigos em esquinas, ou o garoto que sonhava ir à Lua em uma cadeira de rodas. Se estivesse vivo, Palance certamente incluiria uma declaração do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, ouvida durante reunião de trabalho sobre bioenergia do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social na sede do BNDES, no Rio de Janeiro.

A pesquisadora Annette Hester, da Universidade de Calgary (Canadá), criticou o loteamento de cargos técnicos para políticos na estatal, afirmando que tal distruibuição é bastante danosa a uma empresa do porte da Petrobras, com ações negociadas na bolsa de Nova Iorque. Hester afirmou, com propriedade, que "lá fora, todos estão de olho nisso". Gabrielli retrucou dizendo que, no setor de petróleo, "política é fundamental", e que o Canadá é um dos principais produtores de areia betuminosa, da qual se extrai petróleo com queima que gera dióxido de carbono, mas apesar disso é o principal fornecedor de petróleo para os EUA. Mais do que isso, atacou suas concorrentes: "A influência política sobre a Esso e a Shell é tão importante quanto sobre a Petrobras. Na questão de petróleo não se pode pensar exclusivamente em mercado. A Petrobras é uma empresa controlada pelo governo brasileiro, competente, séria e bem administrada".

Tudo bem. Que existam influências em todos os lugares, públicos ou privados, isso existe. Mas não da mesma forma, e não com a mesma gravidade do que ocorre na Petrobras. E diante dos dados da empresa e da importância dela para a economia brasileira, até certo ponto os elogios de Gabrielli procedem. Mas, ao se pensar no que seria uma Petrobras privatizada, sem o gigantismo estatista e a ineficiência da empresa que toma conta da empresa atualmente, tentar justificar o loteamento é mesmo coisa para o "Acredite se quiser".