Polêmica à vista: corrida do ouro em Apuí (AM) traz o garimpo à região

Uma notícia atraiu nesta semana a atenção da mídia para Apuí, uma pequena cidade no Amazonas: diversos periódicos, inclusive do exterior, relatam uma "febre do ouro" na região, nos moldes de Serra Pelada, vinte e cinco anos atrás. Desde o começo de 2007, três mil pessoas já chegaram a Apuí, atraídas por traços de ouro encontrados às margens do rio Juma, distante 80 quilômetros da cidade. Outras três mil haviam chegado no final de 2006, aumentando a população da cidade em 30%.

A exploração se dá pela forma mais arcaica e predatória possível: o nada bom e velho garimpo. Preocupadas, as autoridades já começam a se mexer: uma portaria baixada pelo Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM) proibiu novas autorizações de estudos de viabilidade e de direito de exploração da área. Fruto de uma reunião entre a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do governador do Amazonas, Eduardo Braga, ela não impede que os garimpeiros continuem a exploração das cinco grotas abertas em uma área de 30 hectares, próxima à margem esquerda do rio Juma, mas inibe a chegada de mais pessoas ao local.

De quebra, o governo federal enviou para a região uma comissão formada por representantes do Exército, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), do Ibama, da Polícia Federal, do governo do Amazonas e da Caixa Econômica Federal (!!!). O objetivo da comissão é estudar a viabilidade de exploração da reserva e impedir conflitos nas terras, que não distam muito de áreas onde se estabelecem grupos indígenas.

Para nós, do Portal do Geólogo, é apenas uma questão de tempo até que o caos se instaure na região: o garimpo está tomado por trabalhadores rurais, pastores evangélicos, beneficiados da esmola do Bolsa Família e, pasmem, até mesmo vereadores do município de Apuí. A princípio, o garimpo do ouro era tratado com sigilo absoluto na cidade, até que famílias de garimpeiros passaram a comprar eletrodomésticos no último Natal, e com isso a história veio à tona. Já surgiram casos de malária e diarréia no hospital local, além de terem sido registrados acidentes com troncos de madeira. Com a degradação do meio ambiente, a polêmica da mineração em terras indígenas e a falta de capacitação dos garimpeiros, muitos deles sem a menor intimidade com o assunto, vem aí uma encrenca de grandes proporções, em mais uma triste história a ser contada.