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![]() Entrevista exclusiva com o Secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral, Giles AzevedoPublicado em: 03/06/2005 15:52:00
Portal do Geólogo: Um país com o nosso potencial deveria ter uma mineração mais
expressiva, com maior peso no PIB. O que o Ministério pretende fazer para elevar
a mineração brasileira ao seu devido lugar?
Nesse ano, lançamos uma
licitação para Rondônia e Amapá e fizemos convênio com os governos de Bahia,
Minas Gerais, Goiás, Tocantins e Piauí. Assim,
há uma série de projetos que já são efetivamente a retomada dos
levantamentos, que trazem em si incrementos na pesquisa
mineral dessas áreas.
Particularmente, nossa parceria com o governo de Goiás foi muito exitosa, e
no final do ano passado o governador
Marconi Perillo e nós apresentamos os produtos da primeira etapa e
repassamos os recursos para uma segunda etapa, que já está
parcialmente consolidada. Em função disso, mais de mil requerimentos de
pesquisa em Goiás foram apresentados ao DNPM, o que
significa novos investimentos em pesquisa mineral para aquela região. Mas o
objetivo do governo não é unicamente
instrumentalizar os seus agentes, mas consolidar o setor mineral na política
industrial do país, revitalizando o setor como
um todo. Nesse sentido, os recursos do programa de mapeamento são feitos em
sua totalidade pelo Serviço Geológico do Brasil,
mas também estamos agregando outros agentes: o setor privado e as
universidades.
Na semana passada, assinamos os primeiros contratos com universidades de
Minas Gerais, Rio de Janeiro e Ceará, para
mapeamento das folhas, sob supervisão e gerenciamento do Serviço Geológico
do Brasil. Com isso, queremos que o Governo
Federal volte a investir um valor significativo no setor, e também por isso
fizemos convênios com os estados: vários deles,
mesmo com o descaso e a falta de prioridades dos governos anteriores,
continuaram suas pesquisas nas áreas de mineração e
geologia. Então é fundamental que o círculo virtuoso pelo qual passa o setor
chegue aos Estados e aos Municípios, como forma
de haver uma demanda permanente da sociedade sobre nossas ações e produtos,
bem como uma percepção clara da importância do
nosso setor como agente do desenvolvimento e da criação de empregos.
Portal do Geólogo: Uma questão bastante explorada nos últimos dias foi o
cadastro dos garimpeiros de Serra Pelada. Há algum
interesse do governo em incentivar individualmente a profissionalização dos
garimpeiros, para que se tornem pequenos
mineradores, pagando impostos e evitando a exploração predatória das
reservas? No setor agrícola, por exemplo, percebe-se uma
movimentação das políticas públicas nesse sentido.
A questão ambiental é fundamental: existe um passivo e existem áreas que
produzem hoje e têm a parte ambiental regularizada.
Para esse tipo de regularização, também é mais fácil lidar com empresários e
cooperativas. Como o programa abrange todo o
território brasileiro, indo desde a questão do ouro no Tapajós e da
cassiterita em Rondônia aos diamantes em Minas Gerais e a
ametista no Rio Grande do Sul, não é um programa de apenas um ou dois anos -
é impossível regularizar tudo nesse período. Mas
buscaremos, num prazo razoável, a regularização da atividade mineral
"informal", dando assistência técnica e jurídica,
possivelmente em parceria com os estados.
Já tivemos, em 2004, algumas experiências de sucesso, como em Juína (MT) e
Coromandel. Tínhamos, nesses lugares, conflitos
entre as empresas que detinham a outorga dos direitos de exploração mineral
dessas áreas, mas não estavam operando, com
garimpeiros que efetivamente trabalhavam ali. Depois de uma série de
reuniões envolvendo o Ministério, o DNPM, empresas,
sindicatos e cooperativas, de modo a construir um acordo entre as partes que
permitisse o trabalho de ambas, além de
propiciar condições para que as pesquisas das empresas nessas áreas
continuassem, mesmo em lotes comprados por garimpeiros.
Posso dizer que o governo certamente oferecerá uma política de estímulos,
assessorias e vantagens aos garimpeiros, desde que
se organizem em empresas ou cooperativas.
Portal do Geólogo: Um outro problema bastante levantado pelos leitores do nosso
portal diz respeito à situação do DNPM, que
parece sofrer de um problema estrutural, com baixos salários, funcionários
desmotivados, falta de equipamentos adequados,
fazendo com que o DNPM seja chamado de "primo pobre" das agências
reguladoras. O que o governo tem tentado fazer para
melhorar a atuação do órgão?
No DNPM, iniciamos um processo de modernização da
gestão, que deve culminar com a implantação a outorga on-line e, além disso,
o governo aprovou, no final do ano passado, um
projeto de lei autorizando a criação de um plano de carreira para o órgão,
nos mesmos moldes dos planos das agências
reguladoras, e um plano especial para os atuais funcionários, dando a eles
uma recuperação salarial, conduzindo a uma
remuneração condizente com o trabalho exercido.
Mais do que isso, o projeto de lei criou 1.200 novas vagas para o DNPM. Em
março passado a ministra Dilma Roussef encaminhou
um pedido de concurso público para 800 funcionários, que deve ser realizado
em duas etapas: uma ainda nesse ano, outra em
2006. Esses novos funcionários terão remuneração compatível com as dos
funcionários das agências, e eles passarão por um
curso de formação e treinamento antes de começarem a trabalhar. Nós voltamos
a investir no DNPM também na área tecnológica:
basta dizer que, quando assumimos o governo, o DNPM não tinha seus sistemas
ligados em rede, fazendo com que gente que muitas
vezes está no interior do país tivesse de vir presencialmente a um
escritório do DNPM. Hoje em dia, coisas como os mecanismos
de arrecadação estão disponíveis na internet, com controle diário, e
esperamos implantar a outorga online em até dois anos, o
que trará uma mudança significativa no relacionamento do DNPM com os
usuários e a sociedade, trazendo qualidade, segurança e
transparência ao serviço público prestado ao cidadão.
Portal do Geólogo: Algumas áreas da Amazônia foram transformadas em reservas
florestais ou indígenas, ou ainda em parques, como as próximas à BR-163. Muitas dessas áreas cobrem
províncias minerais, como a de Tapajós, ou o depósito de
nióbio de Seis Lagos. O que os mineradores podem esperar dessas reservas?
Será o fim da mineração nessas regiões?
Particularmente, acho que a mineração pode e deve ser um eixo
de desenvolvimento sustentável na região da
Amazônia, por ter um impacto muito menor que o da agricultura, e um projeto
mineiro bem-implantado pode preservar a área em
seu redor - o melhor exemplo disso é Carajás, cuja floresta nativa está toda
lá.
Assim, a mineração pode apresentar projetos ecologicamente corretos,
socialmente justos e que ajudem a preservar a mata
nativa na Amazônia, que talvez seja, do ponto de vista geológico, a região
menos conhecida do mundo, podendo ainda guardar em
si importantes províncias e depósitos minerais. A preocupação deve ser
permanente, mesmo nas áreas onde não há proteção
integral, pois há áreas com pequenas restrições que acabam, na prática,
tendo seu uso inviabilizado mesmo para pesquisa.
Portal do Geólogo:
Cerca de 40% das descobertas minerais no mundo são realizadas pelas chamadas
"junior companies", empresas de capital
aberto, sem investimentos tão grandes, mas bastante expressivas. No Brasil,
essas empresas são quase inexistentes, talvez
pela falta de um agente financiador como a bolsa de Toronto, no Canadá, por
exemplo, e as poucas juniors brasileiras têm de
buscar capitais no exterior, como a Verena e a Majestic / Octa-Mineração. O
senhor acha que as "junior companies" brasileiras
um dia terão a possibilidade de conseguir recursos dentro do Brasil? E
possível sonhar com o modelo canadense?
Portal do Geólogo: Um dos principais problemas da mineração no país é a
conhecida precariedade da infra-estrutura, em especial
no setor de transportes, com inúmeras empresas tendo problemas de logística
para o escoamento da produção. O que o Ministério
tem feito, ao lado de outras pastas do governo, para solucionar os problemas
na área?
A
votação dos projetos das PPPs e do novo projeto do setor elétrico já atacam
esse problema, mostrando que o governo sabe que
isso é um gargalo. Os novos projetos do setor mineral, mais do que
contribuírem para a economia, são âncoras de investimentos
em infra-estrutura, seja em portos, estradas, ferrovias ou usinas.
Nós ficamos anos sem investimentos em infra-estrutura, como mostrou o apagão
acontecido em 2001, e esse é um trabalho que vem
sendo prioridade no governo. Há um grupo permanente, liderado pelo ministro
José Dirceu, e uma lista de gargalos que afetam
cada setor, e eles são tratados em conjunto pelos ministérios. Existem
coisas que não são estruturais, mas conjunturais, como
a explosão dos preços do minério de ferro, que provocou uma corrida aos
portos de gente querendo embarcar ferro. A
prioridade, claro, são para os contratos de médio e longo prazo já firmados,
que devem ser respeitados, mas de toda forma os
investimentos são fundamentais para a consolidação dos projetos.
Autor: Pedro Jacobi - O Portal do Geólogo
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