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De Beers: a major que não emplacou no Brasil



Publicado em: 12/12/2006 19:11:00

por Pedro Jacobi

Pouco tempo atrás a poderosa De Beers, a maior produtora de diamantes do mundo, após décadas de trabalhos no Brasil, fechou melancolicamente, as suas portas. A empresa foi completamente sucatada e até o seu laboratório de Brasília, símbolo de qualidade, foi vendido para os concorrentes. Um final no mínimo constrangedor para quem investiu maciçamente em prospecção de diamantes no Brasil o ex-maior produtor de diamantes do mundo.

A Sopemi, a empresa que representava a De Beers no Brasil, aparentemente, se especializou na descoberta de kimberlitos. Somente aqui foram descobertos milhares de pipes, literalmente em todos os cantos do território. A Sopemi/De Beers foi incansável na busca de pipes kimberlíticos, isso é um mérito inquestionável da major. Ela prospectou na terra e no ar, no cráton e nos cinturões orogênicos, no Sul e no Norte...

Mas todos sabem que no nosso mundo pragmático um kimberlito não enche a panela de nenhum minerador...É preciso muito mais. É preciso um kimberlito diamantífero econômico. E foi aí, justamente neste tópico que diferencia as crianças dos adultos, que a nossa De Beers falhou irremediavelmente: ela não não conseguiu colocar nenhuma de suas descobertas em produção no solo brasileiro.

Será que existe uma conspiração como alguns querem crer? Ou simplesmente eles estavam no país certo mas na época errada? Qual o motivo desta inusitada situação?

Nos últimos anos muito se fala sobre o total insucesso da De Beers no Brasil. O assunto percorre o mundo da exploração mineral chegando a criar, na cabeça de muitos neófitos mal-informados, a idéia de que o Brasil tem diamantes mas não tem fontes primárias (kimberlitos) econômicas... Essa teoria, que, infelizmente, grassa entre muitos brokers canadenses é, no mínimo, engraçada para não dizer trágica. Esses pseudo-experts brokers estão baseados no fato de que até agora o país, que um dia já foi o maior produtor de diamantes do mundo, ainda não colocou nenhuma mina primária em produção: o efeito De Beers.

Nós achamos que os pontos abaixo, em proporções variadas, fazem a receita do insucesso da De Beers no Brasil e devem ser considerados pelas mineradoras como evidentes sinais de alerta:

  • Incompetência na avaliação dos depósitos encontrados: o uso maciço de pequenas amostras e o dogmatismo geológico exacerbado levou aos técnicos a acreditarem que os Kimberlitos encontrados eram, quase todos, de baixo teor e que os depósitos eram pequenos, sem interesse, para uma grande empresa. O dogmatismo geológico acabou engessando os cérebros da De Beers que só procuravam os modelos que se encaixavam nos kimberlitos Sul Africanos em ambientes tido como cratônicos como preconizavam os dogmas científicos do momento.  Este erro foi o responsável pela não descoberta do maior depósito mundial de diamantes na Austrália: Argyle. Lá a De Beers fez um de seus maiores erros de avaliação ao não perceber que o melhor indicador para o diamante não é o cromo-diopsídio, a picro-ilmenita ou a granada G10, mas sim o diamante. Lá eles descobriram que diamantes econômicos existiam fora dos crátons. Não há dúvida que os técnicos da empresa perderam completamente o foco no Brasil ofuscados no emaranhado de alvos, ambientes geológicos e teorias contraditórias.

  • A combinação de tamanho e baixo teor: muito se tem falado sobre esse ângulo, onde os depósitos encontrados seriam pequenos e/ou de baixo teor. Os últimos resultados publicados no Brasil em cima de kimberlitos descobertos pela mesma De Beers, demonstram que nem sempre isso é verdadeiro e que depósitos em locais diferentes como Minas, Mato Grosso, Bahia e Rondônia foram, de alguma forma, simplesmente negligenciados ou mal-avaliados pela multinacional. Kimberlitos são complexos vulcânicos, com vários pulsos que devem ser mapeados e amostrados diferentemente. Esse approach parece não ter sido equacionado pela De Beers e o que se viu foi o descarte baseado em lógicas aleijadas por idéias e procedimentos imediatistas.

  • Falta de feedback entre os técnicos sul africanos e brasileiros: por muitos anos a De Beers se caracterizou por usar os técnicos brasileiros como simples coletores de informações. Todo o trabalho cerebral de interpretação e de geração era, impreterivelmente, efetuado em Johannesburgo nos headquarters da mineradora. Essa triste falta de intercâmbio parece ter desaparecido gradualmente a medida que as informações científicas confidenciais foram disseminadas na mídia pelas junior companies envolvidas na prospecção de diamantes.

  • Estratégia mundial e protecionismo do mercado que ela mesmo controla: muitos falam que a De Beers não teria nenhum interesse em colocar em produção depósitos em território nacional para evitar a concorrência com as suas próprias minas em produção na África. Esta é a teoria da conspiração que percola nas mesas e fogueiras do mundo mineral. Me parece que a De Beers, como grande player, só teria a intenção de colocar em produção grandes jazimentos que poderiam realmente ter algum significado no seu avantajado fluxo de caixa. Não existe interesse, por parte das majors, em colocar pequenos depósitos em produção. Devemos lembrar que a empresa iniciou uma mina de diamantes aluvionar em Juína de onde foi expulsa por hordas garimpeiras que invadiram e se apossaram dos seus ativos. Isso, sem dúvida, veio a esfriar os ânimos da mineradora que imediatamente classificou o Brasil como país de alto risco. Mas, por outro lado a mineradora investe em países muito mais voláteis que o Brasil e essa hipótese não deve ter um peso muito significativo na equação.

  • Falta de visão futura do mercado mundial de diamantes: difícil de acreditar que a empresa que controla as vendas do diamante no mundo através da CSO, não teria uma visão clara sobre os preços futuros do diamante bruto. É claro que a De Beers sempre soube que os depósitos de baixo teor, considerados marginais nas décadas de 70 seriam econômicos no século 21. Esse ponto é tão óbvio que chega a machucar. Mas qual seria o motivo do abandono desses mesmos depósitos pela De Beers? Será que a cláusula de buy-back embutida nos contratos de venda de acervo é a única garantia que a major tem de retornar das cinzas no Brasil?

A combinação dos pontos acima pode explicar, com uma certa lógica, o fracasso da De Beers no Brasil que por décadas esteve sentada sobre um bom número de depósitos interessantes que não soube ou conseguiu viabilizar.

Notícias de sucesso que várias empresas de mineração estão tendo ao investirem exatamente nas áreas que, a pouco tempo atrás foram descartadas pela De Beers como sem importância econômica, parecem confirmar, de forma irrefutável, que realmente existia algo de podre nos trabalhos da sul africana no Brasil.

No grupo das "herdeiras da De Beers"  encontram-se a Brazilian Diamonds, a Vaaldiam, a Diagem, a Rio Tinto e a Majestic/Octa Mineração que apresentam, com uma certa frequência, resultados altamente positivos em alvos abandonados pela mega-mineradora.

Foi assim que a Rio Tinto descobriu, nas barbas da De Beers, um grande número de kimberlitos, muitos diamantíferos em Juína. Hoje, a Diagem, em prosseguimento ao programa da Rio Tinto encontra-se na rota final para o início da lavra de pelo menos um desses pipes: o Collier 4. A mesma situação se repete em Pimenta Bueno onde a Vaaldiam anuncia a descoberta de kimberlito mineralizado no cluster Tumeleiro. Estes pipes também foram descobertos pela Rio Tinto, mais uma vez, após a varredura sem sucesso da De Beers nesta mesma região.

As notícias sobre descobertas econômicas em antigos pipes da De Beers não param por aí.

A Brazilian Diamonds publicou resultados positivos em bulk sampling no Canastra 1, mais uma descoberta da De Beers reativada por uma junior. A mesma Brazilian Diamonds recentemente publicou um relatório altamente positivo sobre diamantes recuperados no pipe Régis, mais um dos muitos "filhos abandonados"  pela De Beers no Brasil.

A última notícia, ainda quente, vem de Braúna, uma das ex-propriedades da De Beers que, como muitas, não parece estar tão morta como afirmavam os técnicos da multinacional. A Vaaldiam/Majescor informa ter recuperado 4,78 quilates em um mini-bulk sampling de 21,5t. As amostras foram coletadas no pipe Braúna 3 de 1,7 hectares tido como um desprezível dique kimberlítico de menos de 1 hectare.

Afinal o que ocorreu com as áreas descartadas pela De Beers?

O alegado baixo teor de muitas ou o pequeno tamanho de outras parece não ter sustentação pois uma empresa que domina o mercado de diamantes com mão de ferro podia prever, e manipular se fosse o caso, os preços futuros. Hoje a projeção de preços confirma, sem sombra de dúvidas, o que é visível a décadas: os preços do diamante bruto estão simplesmente indo para a estratosfera... Isso é o resultado do desaparecimento do diamante em um mercado que consome mais do que descobre novas fontes. A velha lei de oferta e procura.

Pois aí está a receita do bolo! Com preços do diamante super-elevados qualquer kimberlito diamantífero, um dia, será uma jazida econômica. Uma constatação tão simples que até mesmo os técnicos e experts  De Beers poderiam fazer.

Estas informações positivas, no suposto deserto inviável brasileiro, começam a definir um novo horizonte: o de um Brasil que, em poucas décadas, irá estar entre os grandes produtores de diamantes primários.

E a De Beers? Ela, com certeza absoluta, voltará ao Brasil com nova direção e desculpas esfarrapadas, para poder participar da produção que ela não soube controlar.

Quem viver verá!


Autor:   Pedro Jacobi - O Portal do Geólogo


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