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Os meteoritos e a extinção da humanidade: fato ou ficção?Publicado em: 05/02/2009 18:16:00
por
Pedro Jacobi Meteoritos gigantes em rota
de colisão! A extinção da vida no Planeta! Estas são algumas manchetes
vistas com certa frequência na mídia que fazem as pessoas perderem o sono. A
internet, volta e meia, se enche destas notícias sensacionalistas que após serem
devidamente propagadas no ciberespaço, passam a ser consideradas como
verdadeiros dogmas. A última notícia relativa ao meteorito 2002 NT7 teve
as seguintes manchetes "Um meteoro gigante está em rota de colisão com a
Terra, com impacto para daqui a 17 anos. O mundo se mobiliza para evitar o
pior...." Como saber se a notícia é
verdadeira ou simplesmente sensacionalista? Será uma verdade ou apenas ficção? Nesta matéria iremos apresentar
os fatos atuais sobre o assunto sem imparcialidades ou sensacionalismos. Confira
a seguir e julgue você mesmo as nossas chances de sobrevivência. Existem
meteoritos que podem apresentar algum perigo para o planeta?
Esta
é a pergunta que todos se fazem e que pode ou não significar o fim da raça
humana. A resposta, infelizmente, é
sim. Existem milhares, talvez, milhões de corpos celestes que podem vir a se
chocar com o nosso planeta. Muitos pequenos colidem com a Terra a todo o momento
e alguns, de maior porte, com certeza matemática irão atingir o planeta, mais
dia menos dia. Esta é uma verdade
irreversível. A Terra, assim como a Lua, já
foi bombardeada por meteoritos de todos os tamanhos. A maioria destes impactos
ocorreram no Pré Cambriano e no Arqueano, bilhões de anos atrás (veja
mais). A cada 50 a 100 milhões de anos sofremos impactos significativos que
causaram, em várias ocasiões, a extinção de espécies. O evento mais publicado é
o do impacto que ocorreu no Golfo do México, 65 milhões de anos atrás, que
extinguiu, em pouquíssimo tempo, os dinossauros. Hoje em dia acredita-se que a
extinção de muitas espécies, no passado geológico, ocorreu graças a enormes
desastres globais causados pelo encontro entre a Terra e estes meteoritos de
grande porte. Estima-se que um meteorito com
diâmetro acima de 1.000m tem a capacidade de destruição global que tanto
tememos. As mudanças climáticas e
geológicas juntamente com os intemperismos físico-químicos mascaram as
cicatrizes destes enormes choques dificultando o trabalho dos geólogos e
pesquisadores. Em alguns casos é possível perceber que algumas grandes anomalias
geológicas como o Complexo Máfico-Ultramáfico de Sudbury no Canadá são
decorrentes destas grandes catástrofes naturais. Calcula-se que o meteorito que
causou Sudbury fosse um gigante de mais de 8.000m de diâmetro que simplesmente
destruiu e vaporizou a crosta superior, de aproximadamente 35km de espessura, na
época do impacto há 1.8 bilhões de anos atrás. A região foi invadida por rochas
magmáticas de alta temperatura resultantes da fusão da crosta e do manto. A
cratera resultante do choque era uma mega-depressão de 300km de diâmetro por 6km
de profundidade. Impactos como o de Sudbury
ocorrem de tempos em tempos mostrando que existe uma "nuvem" de meteoritos de
grande porte que intersecta o caminho da Terra. Se o impacto ocorresse hoje a
humanidade provavelmente seria varrida da face da Terra juntamente com um grande
número de espécies vegetais e animais. Sabemos, portanto, que no
futuro a Terra estará, mais uma vez, encontrando-se com estes grandes
meteoritos e que os resultados poderão, realmente, ser definitivos.
Uma notícia atenuante, para
poucos, é que a extinção da vida é praticamente impossível como o resultado de
um impacto, por maior que este seja. Sabemos hoje que certas bactérias e vírus
podem resistir a temperaturas e pressões elevadíssimas que, mesmo se lançados ao
espaço em pedaços rochosos da extinta Terra, poderão resistir por milhões de
anos até encontrarem um novo ambiente que propicie a sua evolução. Preocupado com o futuro de
nosso planeta? Leia sobre as nossas chances imediatas abaixo. Como são
medidas as chances de um impacto e o seu potencial destrutivo? Os astrônomos criaram, em 1999, uma escala de 0
a 10, denominada Escala de Torino, que mede o risco e a capacidade destrutiva de
um impacto na Terra. A Escala de Torino pode ser encarada como a escala Richter
para terremotos. De uma forma geral a maioria dos astrônomos estava
dividida entre informar ou não à população sobre possíveis impactos destrutivos
o que poderia causar uma reação de pânico coletivo. Muitos alegam que, na
maioria das vezes, uma descoberta que parece ser uma ameaça, quando estudada
mais detalhadamente, passa a não ter potencial destrutivo que foi determinado
anteriormente. Consequentemente eles estariam protegendo o público destas
incertezas e de preocupações desnecessárias. No entanto no início do ano um grupo de
astrônomos liderados por um Professor do MIT fizeram uma revisão sobre o assunto
e decidiram manter a opinião pública informada sobre estes fatos. Nesta revisão
eles tentaram suavizar as definições da escala de Torino que apresentamos, na
íntegra, abaixo.
Escala de Torino Qual a
chance de termos uma colisão de grande porte no futuro próximo? Felizmente, como veremos abaixo as chances de
um impacto significativo neste século, até onde se sabe**,
é, simplesmente, muitíssimo pequena. Os corpos estelares que orbitam no nosso
sistema solar, meteoritos e cometas são chamados coletivamente de NEO ("near
Earth objects") pelos astrônomos. Na tabela abaixo estão listados os 83 NEOs mais
importantes com suas principais características como Escala de Torino, diâmetro,
velocidade, probabilidade de impacto e o período de um possível impacto.
Pode-se observar que na lista existem dois
asteróides com diâmetro superior a 1km ou seja: capazes de uma destruição de
proporções globais. Ambos tem uma probabilidade em torno de zero de chocar-se
contra a Terra neste século. **:
como a cada ano são descobertos
500 novos NEOs as coisa podem mudar rapidamente... Com o advento de novos telescópios e
tecnologias um grande número de descobertas estão sendo sistematicamente feitas.
A cada nova descoberta surge, consequentemente,
uma nova consciência sobre o risco. No gráfico abaixo percebe-se que são
descobertos mais de 500 corpos novos a cada ano o que demonstra
claramente que o espaço é muito mais povoado do que se acreditava e que
uma destas descobertas poderá ser de um asteróide de grande porte em rota de
colisão.
A pergunta que se faz é quando será detectada a
primeira ameaça real de impacto... Algum asteróide já foi
classificado como uma grande ameaça no passado? Sim vários! Em algumas ocasiões os astrônomos classificaram
o risco de um impacto de asteróide como acima de zero na Escala de Torino, o que
é considerado raro. O mais recente e com o maior índice de risco de toda a
história, ocorreu agora, em Dezembro de 2004. Nesta ocasião o asteróide
2004 MN4
foi classificado como nível 4 na Escala de Torino, algo que nunca havia
ocorrido anteriormente. Este objeto, com um diâmetro de aproximadamente 320m foi
descoberto quando se encontrava a 14,9 bilhões de quilômetros da Terra.
A previsão, feita em 24 de
Dezembro de 2004 não podia ser pior...Os
estudos feitos, em caráter preliminar, pela NASA, neste dia 24, mostravam
que a órbita do 2004
VD17 sugeria um impacto em 13 de Abril de 2029. Um dia depois a mesma NASA
estimava uma probabilidade de impacto extremamente elevada: 1 em 60. O evento
foi, então, classificado como 4 na Escala de Torino. A notícia se espalhou e
muitas manchetes já anteviam grandes desastres. Imediatamente os telescópios do mundo passaram
a estudar o 2004 MN4.
Como resultado deste esforço concentrado, poucos dias após a divulgação da
ameaça, em Janeiro de 2005 novas estimativas, feitas pelo radar de Arecibo, já
apontavam para a improbabilidade do choque. Logo depois da equipe do Arecibo, Jeff Larsen
and Anne Descour do Spacewatch Observatory conseguiram medir, com maior
precisão, a órbita do asteróide por um período de 3 meses. Estas observações
permitiram estabelecer que, em nenhuma simulação possível, o impacto previsto
para 13 de Abril de 2029 deverá existir. Ufa!! Este foi o final feliz de uma descoberta que
parecia ser catastrófica e que tirou o sono de muitos. O meteorito 2002 NT7 teve uma história
semelhante. Ele teve o seu impacto previsto para 17 anos (2029) e, após um
período de estudos mais detalhados, também foi considerado como zero na Escala
de Torino. Infelizmente não há como fugir destas notícias,
que quando precoces, podem chegar à mídia sensacionalista que imediatamente se
transforma no arauto do fim do mundo. (veja mais) Abaixo uma tabela mostrando os objetos que
estiveram muito próximos de um choque somente neste mês de novembro de 2005. . Somente em 2005, ano que ainda não terminou,
tivemos 10 eventos que merecem destaque. Observe que quatro destes asteróides
tem diâmetros superiores a 100m o que significa uma capacidade destrutiva
elevada. O que passou mais perto foi o
2005 VN5 que esteve 1,3 vezes a distância da
Terra a Lua. Ainda neste ano estão chegando outros 30
asteróides (veja na tabela abaixo). Pelo menos 3 deles tem dimensões maiores que
1.000m de diâmetro. No entanto todos passarão ao largo e não são considerados
ameaças ao planeta. O que podemos fazer? Os governos dos EUA e do Japão tem programas
definidos, em andamento, que visam proteger o planeta de um asteróide
potencialmente perigoso. Muitos outros governos tem programas de monitoramento
que visam a identificação antecipada de uma colisão com um asteróide.
Pouco tempo atrás, em 4 de julho de 2005 o
programa
Deep Impact teve um final feliz. Tratava-se do primeiro estudo feito em um
cometa pelo Homem. Os programas atuais visam a deflexão de
asteróides com, no mínimo, 200m de diâmetro, capazes de causar um desastre de
proporções similares a uma bomba atômica de 600 megatons. Se o choque for no
oceano o tsunami resultante poderá ser simplesmente devastador. No entanto a deflexão de um asteróide de 200m
pode não ser tão fácil assim . Afinal, se o corpo tiver uma composição de
ferro-níquel a sua massa poderá atingir a 1 milhão de toneladas. Imagine a energia necessária para mudar a
órbita de um monstro de 1 milhão de toneladas movendo-se a uma velocidade
de 100.000km/h... Temos muito que aprender. Será que ainda temos
tempo suficiente? Tudo leva crer que sim. Autor: Pedro Jacobi - O Portal do Geólogo
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