Existência de água líquida em Marte divide cientistas

Reportagem da edição de hoje da "Folha de São Paulo" indica que cientistas da Agência Espacial Norte-Americana (NASA) estão divididos quanto à possível existência de água líquida em Marte, com duas correntes de discussão se formando dentro do órgão. Um dos grupos de cientistas, encabeçado pelo brasileiro Nilton Rennó, tem certeza de que há água líquida no planeta vermelho, atualmente alvo de análises da sonda Phoenix. Outro grupo, liderado pelo pesquisador Aaron Zent, reconhece apenas a existência de sinais de "água descongelada" no solo marciano, mas em quantidades insignificantes e em estados que não o líquido como o conhecemos – fala-se em algo próximo a um gel.

A superfície de Marte tem temperatura média de -53ºC, um obstáculo à presença de água líquida. Na semana passada, Zent disse ao jornal "The New York Times" que a Phoenix não estava vendo "absolutamente nada" de água. Agora, ele afirma que a umidade existente na atmosfera de Marte durante o dia praticamente desaparece à noite. Portanto, as moléculas devem ir para o solo, onde ficariam nesse estado de gel.

Os dois pesquisadores usam métodos diferentes na busca por água. Zent faz uso principalmente de instrumentos que medem a condutividade elétrica do solo, para analisar a presença de sais e a umidade. Já Rennó utilizou imagens e medidas de termodinâmica. Algumas das imagens da Phoenix mostram possíveis gotículas, de tamanho diminuto, em uma das pernas da sonda. Uma das explicações possíveis seria a de que as gotículas são resultado do gelo ter virado gás (por sublimação) no solo e, posteriormente, ali solidificou-se. Porém, uma vez que a perna da sonda está mais quente que o ambiente marciano, a hipótese não teria fundamento; neste ponto, Nilton Rennó defende que as gotículas, em vez de gelo, são de uma água bastante salgada, o que faria com que sua temperatura de congelamento diminuisse.

Apesar de a temperatura no solo marciano ser bastante baixa, por aqui, as duas equipes travam um acalorado debate, com acusações de politicagem e desdém das descobertas do lado oposto. E que só deve acabar quando a Phoenix, bem longe do palco das discussões, trouxer mais resultados conclusivos.