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A saga de Morro do Ouro, parte 1Publicado em: 03/01/2009 01:00:00 A saga de Morro do Ouro, parte 1 O ano era 1978. A Billiton Metais, uma subsidiaria da Royal Dutch Shell, estava entrando no sexto ano como empresa aspirante de exploração e mineração. Em 1972 a Shell, seguindo o exemplo de varias outras petroleiras, decidira entrar na mineração e comprou uma pequena empresa chamada Billiton, também de origem holandesa, que tinha operações de estanho em ilhas na Indonésia. A Billiton se transformaria no braço de mineração da Shell, concentrando inicialmente em estanho, em que tinha expertise, entrando depois em não-ferrosos, carvão e alumínio. No Brasil, comprou a operadora de estanho Ferusa em 1972, depois entrou em bauxita, em sociedade com a Alcan, em não-ferrosos na Bacia do Bambuí (para chumbo e zinco) e Rio Grande do Sul e na Bahia para cobre e zinco. Como outras petrolíferas, a Shell tinha muito dinheiro e realmente acreditava que sucesso em exploração mineral era uma questão de investimento, e que expertise em mineração era facilmente comprável. No fim de 1978 eu era gerente de exploração da Bahia e recebi uma ligação de meu colega suíço Jean-Marie Conne, responsável pelo programa de chumbo e zinco. Ele era um dos poucos geólogos no mundo que podia estimar o teor de minério de zinco em nível de escala decimal, somente olhando o testemunho. Conne estava contando sobre sua descoberta, um grande trabalho dos bandeirantes de ouro, datado originalmente de 1722, que tinha grande potencial, numa área conhecida como Morro do Ouro, perto de Paracatu, no norte de Minas. Morro do Ouro não era novidade para muitas empresas. O jovem geólogo da Vale Pedro Jacobi visitou Morro do Ouro em 1972, mas o preço do ouro e o baixo teor não eram incentivo. Em 1978 o preço do ouro tinha subido, mas eu e Jean-Marie Conne sabíamos que tínhamos um problema: Shell-Billiton não estava interessada em ouro. Então a decisão era simples: a área foi requerida por uma das subsidiarias da Shell para explorar zinco! No inicio de 1979, fui mandado para a Australia, enquanto Jean-Marie mais tarde sairia da empresa. Morro do Ouro foi tratado no inicio como um “patinho feio” e mais tarde alguém da Billiton decidiu passar o “ problema” para a Rio Tinto, formando uma parceria de 51% Rio Tinto e 49% Billiton. Cinco anos depois, retornei de um período por Austrália e Canadá e trouxe na bagagem um MSC da Queen's University, sobre Exploração e Lavra de Ouro no Brasil". Mas agora já sabia que a Rio Tinto era a operadora de Morro do Ouro, embora o projeto continuasse nos livros da Billiton. Com o retorno de Ken McKechnie para a Holanda, a posição de gerente de exploração da Billiton me foi dada; a empresa tinha interesses em exploração de ouro na Amazônia, sob o comando de Pedro Jacobi, e o projeto Morro do Ouro, como dito, se tornara uma joint-venture. Em contraste, Morro do Ouro era a salvação da Rio Tinto. A empresa tinha tido tempos difíceis explorando ouro em aluviões da Amazônia e um projeto de não-ferrosos perto do Rio de Janeiro, e agora finalmente surgia um projeto com um grande potencial. O vice-presidente da Billiton e responsável pelas atividades do dia-dia da empresa no Brasil, reportando diretamente para a Holanda, era Richard De Vries, um químico que não era famoso por entender ou gostar de exploração mineral. Ele estava atarefado em administrar os contratos com Alcoa, MRN e Valesul que a Billiton não operava, mas tinha participação societária; exploração e ouro eram somente uma distração que ele tinha que gerenciar. A Rio Tinto tinha dois excelentes geólogos de ouro, Rubem Forlim e Paulo Andreazza, que acreditavam no potencial do depósito, então não foi difícil de me convencer que a Billiton não só deveria ficar no projeto como também deveria usar uma cláusula de retorno e comprar de volta 49% do negócio. Se a Billiton investisse US$ 1 milhão no chão ela teria de volta 49% da participação, ao invés dos 13.5% que tinha hoje. Um fluxo de caixa conservador de Morro do Ouro para uma operação de 40 Mt a 0.75g/t Au dava um NPV descontado a 12% de US$ 22 milhões. Além disso, havia cerca de 50 Mt de minério com teor pouco mais baixo, mas o corpo estava totalmente aberto mergulhando para NW. O verdadeiro potencial continuava em aberto. A Rio Tinto queria iniciar com uma pequena operação lavrando minério oxidado, com Capex pequeno, enquanto desenvolvia exploração do corpo para alcançar seu valor real. Esta era uma estratégia vencedora. Mas eu iria enfrentar tempestades. Depois de gastar tempo preparando uma apresentação e apresentando Morro do Ouro para Richard, concluí com meu cash flow conservador, mas salientei o tremendo upside que o projeto tinha: investindo US$ 1 milhão, a Billiton estaria de volta no jogo! Richard balançou a cabeça, olhou para o cash flow, dividiu o NPV por 4 e disse: "– Este é o seu preço de venda. E se for tão bom quanto você fala, você não terá problemas em vende-lo." O encontro havia terminado. Richard não tinha a menor intenção em ficar com o Morro do Ouro! Para mim, isto era absurdo. Richard supostamente deveria preservar os interesses da empresa, ou pelo menos dos acionistas. Como podia ele dar tal desconto num cash flow conservador que apenas refletia uma pequena parte do potencial do depósito. Nenhum prêmio? Nada? Ainda lutando com um sentimento de perda, liguei para meu bom amigo José Leal, geólogo que era então diretor de exploração do Banco Multiplic. Tinha que oferecer o projeto a alguém que realmente desse valor a Morro do Ouro. Mais tarde, neste mesmo dia, tive um encontro com ele, em que Ronaldo César Coelho, o dono do banco, tinha assinado um cheque de US$ 750 mil pelos 13.5% oferecidos. No mesmo dia, Richard De Vries tinha o cheque na sua mesa. E não ficou feliz, mas surpreso. Ele me questionou: como tinha vendido sem a aprovação do board na Holanda? Respondi: "- Fiz o que você mandou. Agora é sua vez. Se o board não aprovar, eu devolvo o cheque. Este é o acordo". Mas o Banco Multiplic não iria ter participação em Morro do Ouro. Frank Fenwick, então presidente da Rio Tinto no Brasil, tinha outros planos. Por contrato, ele tinha o direito de preferência, mas com a saída da Billiton ele teria que contar uma boa história para justificar para Londres o porque da perda de um importante sócio. Mas Frank era um homem de recursos, e não teve muito trabalho em convencer a Londres que pagar US$ 750 mil por 13.5% de um depósito com potencial de se tornar uma referência mundial era uma barganha! A Rio Tinto tinha agora 100% de Morro do Ouro. Este seria o primeiro capitulo de uma mina que viria a ser o maior depósito de ouro do Brasil (com o valor in situ excedendo US$ 10 bilhões!). Hoje, Morro do Ouro pertence à canadense Kinross, que comprou da Rio Tinto 100% da mina em produção pela bagatela de US$ 280 milhões em 2006; a produção anual da mina está em 7,5 toneladas de ouro, e está agora em fase de expansão para 35 toneladas anuais, com um recurso que excede 1.2 bilhões de toneladas! Qual era mesmo a tonelagem inicial em 1984? O que aconteceu de errado? Como pode a Billiton vender tão barato e a Rio Tinto após operar lucrativamente por 22 anos fazer o mesmo erro? Quem está protegendo o acionista? Aonde estão os lideres destas empresas? Talvez Lee Iacocca, o famoso presidente da Chrysler, tenha a resposta. Você deveria ler seu ultimo livro! Autor: Pedro Jacobi - O Portal do Geólogo
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O Portal do Geólogo Editor: Geólogo Pedro Jacobi |