Quem diz que não existem grandes terremotos no Brasil?

Por Pedro Jacobi
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A notícia que todos conhecem é que o Brasil é um país onde os terremotos são e serão sempre pequenos nunca atingindo magnitudes de 6.0 e acima, na Escala Richter.  Terremotos acima de 6.0 são aqueles que causam a maior destruição e mortes.

Esta percepção é uma inverdade. Existem regiões no Brasil onde já ocorreram e ainda irão ocorrer terremotos de grande magnitude que irão exceder 7.0 na Escala Richter.

Por que nada ou pouco sabemos sobre eles? A nossa falta de sismógrafos é parte da resposta, a outra parte é que os terremotos mais importantes ocorrem em regiões pouco habitadas na Amazônia, com raros prédios e construções.

No mapa da esquerda, abaixo vemos as faixas de maior probabilidade de ocorrência de terremotos significativos nos próximos dez anos no território Brasileiro. É um mapa probabilístico e mostra que existe uma faixa, paralela à cordilheira dos Andes  que penetra na Amazônia na Região do Acre, com elevadas chances de terremotos nos próximos anos.

O mapa da direita mostra os principais sismos Brasileiros desde 1900. Como previsto eles ocorrem ao longo da faixa de mais alta probabilidade. Todos os terremotos de maior magnitude ocorreram próximos à fronteira entre o Acre e o  Amazonas. Nenhum desses pequenos abalos que frequentemente ocorrem em Montes Claros ou interior de Goiás fazem parte desta compilação pois esses são muito pequenos e raramente atingem 3.0 na Escala Richter.

O motivo destas ocorrências ao longo de uma faixa bem definida é a zona de subducção da´placa oceânica de Nazca que mergulha por baixo da placa da América do Sul onde o Brasil se encontra. Esse movimento contínuo de choque entre as  duas placas é o causador do soerguimento dos Andes, dos vulcões do anel de fogo  e, naturalmente, dos deslocamentos nas falhas causadoras de terremotos. 

Diagrama esquemático mostrando a zona de  subducção da Placa de Nazca, formadora da cadeia de montanhas dos Andes  e responsável pelos maiores terremotos do Brasil.

Os epicentros mais próximo à superfície causarão terremotos  mais  devastadores e mortais. Já aqueles epicentros muito profundos, mesmo associados  a sismos de grande magnitude como os acima de 7.0 não serão tão sentidos na  superfície.

Esse é um dos motivos que os sismos da Amazônia não são tão devastadores: eles estão associados a epicentros com profundidades acima de 500km, o que pode  ser visto no diagrama acima. Outro motivo óbvio é que os sismos brasileiros do Acre e Amazonas estão em locais com baixa densidade habitacional. Quase todos ocorreram próximos a localidade de Tarauacá de 37 mil habitantes na fronteira  dos Estados do Acre e Amazonas como pode ser visto no mapa abaixo. Tarauacá é mais conhecida pelo seu abacaxi gigantesco do que pelos sismos. 

O mapa abaixo mostra que os maiores terremotos da história do Brasil ocorreram na região de Taraucá sendo que seis deles superaram 6.0 na Escala Richter.

O maior terremoto da história do Brasil teve uma intensidade de 7.1 e ocorreu  em 20 de junho de 2003, oito meses após um terremoto de 6.9 na mesma região. 

No nordeste do Brasil, na região do Rio Grande do Norte ocorreram alguns sismos de grande intensidade como o de 5.8 com epicentro a 23 km do fundo oceânico na costa de Natal. Esse terremoto é uma anomalia pouco  explicada pois não se relaciona a falhas ou zonas de subducção associadas a placas tectônicas. O fato do terremoto de Natal ter ocorrido no mar é  preocupante e o Portal do Geólogo sugere que esse sismo e outros a ele relacionados sejam estudados prioritariamente para podermos  saber sobre potenciais ameaças de tsunamis na região.

Terremotos com intensidades acima de 6.0 são geralmente mortais. Esses sismos causaram dezenas de milhares de mortes ao longo da história do Homem, basta que o epicentro seja raso e  que a região seja bastante habitada.

Felizmente para o Brasil os terremotos de grande magnitude de Tarauacá se associam a epicentros profundos com mais de 500km. Nestas profundidades a placa  oceânica está sendo digerida pela enorme pressão e temperatura e choques tornam-se cada vez mais raros.

A conclusão é: temos sim terremotos de grande intensidade  mas com pouco ou nenhum perigo pois eles estão localizados em  zonas pouco habitadas e tem epicentros de grande profundidade. Os terremotos no  mar como os de Natal devem ser mais estudados para podermos identificar não  somente o fato causador mas, também, os potenciais perigos à população que vive  no litoral do Nordeste.