Por
Pedro Jacobi
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As riquezas de Carajás atraíram muitos empresários ao Pará e Maranhão. Um
grande número deles investiu em dois grandes polos de ferro-gusa: situados em
Marabá/PA e Açailândia/MA. Os empresários estavam, na realidade, adicionando
valor ao minério de ferro que é vendido pela Vale no estado bruto aos
compradores internacionais.
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Plantas de ferro-gusa obsoletascom
elevado custo operacional estão condenadas a desaparecer |
A região de Açailândia recebeu 8 indústrias siderúrgicas: Cosima, Santa Inês,
Margusa, Fergumar, Simasa, Vale do Pindaré, Viena e Gusa Nordeste. Todas
pensavam se beneficiar do ferro de Carajás, da ferrovia Norte-Sul e da ferrovia
Carajás e da excelente infraestrutura local.
Já em Marabá, 10 indústrias siderúrgicas com 21 fornos foram instalados
(Fergumar, Simasa, Usimar, Sidepar, Cosipar, Iberica, Itasider, Maragusa, Viena
e Sinobras ) também atraídas pelo ferro de Carajás e pelo encorajamento da
própria Vale.
Pois esse empreendedorismo todo, que gerou bilhões de dólares de investimentos, dezenas de milhares de empregos diretos e indiretos, além de faturamentos anuais acima de 1 bilhão de dólares está hoje, sucateado, paralisado e entregue às moscas. Os empresários que tiveram a coragem de investir tem os seus nomes manchados como se fossem criminosos.
Afinal em que país estamos, que permite essa enorme inversão de valores?
Os principais motivos deste desastre são:
- A falta de uma política e regras específicas no início das
operações. Se o Governo e a própria Vale obrigassem os guseiros a
ter um carvão ambientalmente correto desde a primeira tonelada de ferro-gusa
as coisas seriam diferentes. Se, ao mesmo tempo os técnicos da Vale e do
Governo informassem aos empresários sobre as restrições e custos
operacionais das plantas de gusa por eles escolhidas, muito dos problemas
que hoje penalizam os empresários não existiriam.
- Os elevados preços do minério de ferro, a Vale cobra
dos guseiros brasileiros mesmo preço usado para a exportação.
- Carvão, meio ambiente e plantas obsoletas. A maioria
dos guseiros construíram plantas, bastante baratas e obsoletas que usavam
somente o carvão vegetal. SE essas plantas pudessem operar também com o
coque os problemas que eles enfrentaram para obter carvão vegetal não
aconteceria. Com o passar do tempo as notícias de desmatamentos para a
fabricação do carvão se espalhou pelo Brasil e mundo e a Vale começou a
vender minério somente para as empresas que tinham um carvão com selo do
IBAMA. Por falta de planejamento poucas empresas se qualificavam e a maioria
teve que comprar carvão a preços elevados e iniciar a produção própria de
carvão a partir de eucaliptos que tem um ciclo de 5 anos. Este período que
elas trabalharam com o carvão não certificado gerou um passivo ambiental que
só foi negociado com a SEMA em 2012. A solução adicionou novos custos aos já
combalidos guseiros.
- Falta de minério próprio: as guseiras por não terem
minas próprias ficaram atreladas à Vale e não puderam sobreviver. Muitas
tentaram de tudo para sobreviver, até lançar nos seus fornos lateritas com
alto teor de água o que pode causar crepitação e prejuízos.
Hoje, graças a vários fatores listados praticamente todas as guseiras do Pará
e do Maranhão ou foram fechadas ou estarão sendo fechadas nos próximos dias. O
custo da produção do ferro-gusa é maior ou igual ao preço praticado pelo mercado
que é de US$450/t
O trágico é que o ferro-gusa pode ser produzido a menos de
US$170/tonelada o que permite uma lucratividade excelente.
Para conseguir essa "mágica" é necessário um bom assessoramento técnico,
plantas modernas, minério de ferro próprio e carvão vegetal próprio. É realmente
uma desgraça que a população local e esses guseiros, empresários, empreendedores
brasileiros que foram enfrentar a Amazônia buscando adicionar valor ao minério
de ferro, que a Vale vende no estado bruto por uma ninharia no mercado
internacional, sofram essa imensa derrota e se encontrem, hoje, totalmente
desamparados pelo Governo tendo que amargar imensos prejuízos.