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O desastre da Samarco: mentiras, verdades e consequências



Publicado em: 17/11/2015 21:22:00

Já faz uma eternidade desde o terrível acidente do rompimento da barragem da Samarco.

Deste então a mídia está sendo inundada por notícias. Algumas verdadeiras, outras totalmente falsas ou desencontradas. Várias com conteúdo pseudotécnico, que muitas vezes embaralham, mais ainda, a compreensão do que realmente está ocorrendo no Vale do Rio Doce e nas comunidades devastadas.

Esta enxurrada de notícias, desprovida de uma filtragem técnica, só vem lançar uma cortina de fumaça neste que, sem nenhuma dúvida, é o maior desastre ambiental da história do Brasil.

Como um geólogo com mais de 44 anos de experiência fico profundamente preocupado com os desdobramentos que esse desastre está tendo e com os futuros impactos na mineração em geral.

Neste exato momento a mineração já está sendo demonizada e, em muito breve, todos os mineradores serão jogados na vala comum, colhendo os frutos do desastre de Bento Rodrigues e do mau gerenciamento da crise feito pela Samarco.

Veremos tempos difíceis e, muito provavelmente, vários empreendimentos minerais serão inviabilizados com as novas regras: mais desemprego em um país carcomido pela lama da corrupção.

Fala-se até em beneficiamento a seco que seria implementado, na última hora, açodadamente, sem maiores estudos, no novo Código de Mineração, que de tanto remendo é chamado “carinhosamente” de Frankenstein.

Com isso, jactam-se os deputados, seria o fim das barragens de rejeito...

Uma falácia digna de quem simplesmente não entende nada da mineração, que além de inócua vai encarecer e inviabilizar muitas minas literalmente acabando com a mineração brasileira.

Esses “senhores” parecem não saber que existem inúmeros processos de beneficiamento mineral, comuns a muitas das maiores minerações do planeta, que só existem com o uso da água.

Antes de gritar que eles estarão banindo as barragens de rejeito seria interessante buscar conselho com que realmente entende do assunto e visitar ao menos uma mina, como a maior mina de ouro do Brasil, da Kinross em Paracatu, que sem a água irá parar e lançar no caos as comunidades e pessoas que dela sobrevivem.

A verdade é que iremos, infelizmente, colher os frutos da ignorância de políticos sem o mínimo conhecimento do assunto, entrando em um retrocesso que pode atrasar mais ainda o Brasil.

Se você acha que esta é uma linha de argumentação voltada para a defesa da Samarco pode repensar o assunto.

O que me preocupa é o gigantesco prejuízo que iremos colher ao esquecer a fundamental importância da mineração na vida de todos. Tudo isso em consequência dos erros cometidos por poucos mineradores. Existem milhares de minas no Brasil, mais de quinhentas em Minas Gerais e os acidentes com barragens de rejeitos são estatisticamente raros.

É verdade! A Samarco errou! E, que é o pior, continua errando.

Quem diria que, na devastação de Bento Rodrigues, os erros seriam cometidos justamente pela Vale e a pela BHP? Duas gigantes da mineração, tidas como empresas de altíssima qualidade.

Qualquer que seja a causa dos rompimentos, não será possível negar a responsabilidade final da Samarco neste desastre de proporções épicas.

Afinal, uma coisa que todos nós da mineração aprendemos é que na maioria das grandes minas do mundo sempre vai existir uma barragem de rejeitos.

Parece óbvio, mas as barragens de rejeito são feitas com um único objetivo: confinar e conter as milhões de toneladas de rejeito e água que são descartadas durante a vida útil de uma mina. É mais do que evidente que a última coisa que o minerador quer, é que a sua barragem de rejeitos se rompa.

Barragens de rejeito são feitas para durar.

Nos cálculos destas barragens os engenheiros simulam casos extremos como as maiores chuvas em 100 anos, terremotos, impactos de aeronaves e uma gama variada de motivos que podem causar a instabilidade dos taludes, o rompimento e as calamidades.

É por isso que, para cada barragem de rejeito, devem existir, também, barragens menores, de contenção, destinadas a conter o fluxo causado por um possível rompimento e evitando o desastre.

Onde estavam as barragens de contenção da Samarco?

Pelo que sabemos a barragem de Santarém, onde era acumulada, quase exclusivamente água, era para ser uma barragem de contenção do Fundão. No entanto, graças a uma gigantesca diferença de nível entre as duas barragens, de 137m, a lama do Fundão, descendo com enorme energia, simplesmente passou por cima de Santarém, aquaplanando, sem tomar conhecimento da barragem de contenção.

Hoje engenheiros de barragens, com quem falei, condenam as contenções e a segurança das barragens de rejeito da Samarco e apontam a possibilidade de novos rompimentos na Germano e Santarém, coisa que até ontem havia sido negada enfaticamente pela Samarco.

Segundo a mineradora a barragem de Santarém havia sido destruída pelo rompimento do Fundão o que realmente não ocorreu.

Mentira ou simples incompetência?

Logo após o rompimento o próprio Presidente da Samarco veio a público e informou, com todas as letras, que as duas barragens haviam se rompido.

Mais ainda, depois que bombeiros informaram que existia uma importante rachadura na barragem de Germano, que poderia, também, se romper a Samarco garantiu que nada disso era verdade, chamando, consequentemente, os bombeiros de mentirosos.

Agora, doze dias depois, em mais um desmentido embaraçoso, a mineradora não só confirma que existem rachaduras que põem em risco a estabilidade de Germano como também informa que a barragem de Santarém, que NÃO foi rompida, pode agora desabar.

E as coisas não param por aí.

Desde o início do desastre a Samarco afirma que a lama não tem nenhuma toxidade , mas não é bem isso que várias amostras coletadas mostram.

Será que a Samarco tem um estudo geoquímico recente de controle da lama e rejeitos depositados nas barragens?

Possivelmente não, pois com certeza, a empresa estava preocupada apenas em baixar os custos da operação deixando de lado pontos de menor interesse econômico como este.

Se tiver por que não publica?

Com a publicação de relatórios de análises demonstrando a baixa toxidade ao longo do tempo, desta lama acumulada nas barragens, a Samarco poderá se eximir de uma responsabilidade que poderá significar dezenas de bilhões no curto espaço de tempo.

Mas, o que se sabe é que análises feitas pela Prefeitura de Baixo Guandu, que continham grande percentual de lama, apresentaram teores elevados de arsênio: 2,63mg/L.

Este é um valor dez vezes maior do que a OMS considera aceitável para a ingestão humana e 20 vezes maior do que o recomendado como valor máximo permitido pela Sabesp.

Será que esta lama analisada não foi contaminada ao longo das centenas de quilômetros, entre a barragem de rejeitos da Samarco e Baixo Guandu? É possível, e “a prova dos nove” só vai ser conhecida quando houver uma amostragem representativa da lama da barragem e das áreas adjacentes.

Como fica a credibilidade da Samarco após esta clara má gestão da crise, repleta de mentiras e desmentidos?

De desmentido em desmentido a Samarco perde totalmente a autoridade e para piorar oferece às vítimas, que tudo perderam, uma “ esmola” de um salário mínimo por mês, mais 20% por pessoa adicional na família juntamente com uma cesta básica.

Essa proposta não só é ridícula como um verdadeiro escárnio da multibilionária instituição às pessoas que perderam seus entes queridos, terras, casas, empregos e todas as posses por um erro de exclusiva responsabilidade da Samarco.

Se continuar com essa falta de sensibilidade e sintonia a Samarco vai literalmente derreter com multas e processos que deverão superar as muitas dezenas de bilhões de dólares. Como fica a credibilidade da Samarco após estes sérios desmentidos?

Se os valores forem compatíveis com os pagos pelas grandes empresas que causaram megadesastres ambientais como o de Mariana, a Samarco deverá pagar mais de R$100 bilhões para a total reparação dos danos causados à população e ao meio ambiente.

Infelizmente nessa equação quase todos perdemos.

Perde a Samarco que poderá ser extinta pelo tamanho das multas, perde a mineração que será responsabilizada por todos os erros dos maus mineradores, perde a população das áreas atingidas e perde o meio ambiente.




Autor:   Pedro Jacobi - O Portal do Geólogo

  

 


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