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Água: o exagero e o alarmismo atingem a mídia



Publicado em: 18/06/2015 16:40:00

Deu hoje no caderno de Ciência e Tecnologia do Jornal do Brasil que a “Nasa afirma que mundo poderá ficar sem água no futuro”.

Fiquei só imaginando o que o cidadão comum pensa ao ler essas notícias alarmistas em um caderno de “Ciência e Tecnologia”.

Um mundo sem água em um “futuro não tão distante”, garante o JB.

A notícia seria hilariante se não tivesse implicações tão sérias e se não semeasse o pânico na população e até nos políticos mal preparados que são.

Na pesquisa que evidentemente fiz, passei pelo The Washington Post, que já veicula uma matéria muito mais bem embasada e sem o alarmismo imbecilizante do Jornal do Brasil e, finalmente, cheguei na origem, um artigo publicado na NASA News: Third of Big Groundwater Basins in Distress.

O título diz claramente que 1/3 dos grandes aquíferos está diminuindo e nas conclusões que isso ocorre graças ao consumo humano.

Os autores , da Universidade da Califórnia, fizeram um estudo altamente preliminar, em base aos dados coletados pelos satélites GRACE (Gravity Recovery And Climate Experiment ) da NASA. Estes satélites medem variações e anomalias no campo gravitacional da Terra algumas vezes causadas por massas d´água.

A missão foi lançada em 2002 e estuda a distribuição de massa do planeta.

Os mapas gerados (veja imagem) estão sendo usados por oceanógrafos, geólogos e glaciólogos.

A precisão dos dados é bastante debatida, assim como a interpretação destes.

Segundo O GRACE o nível dos oceanos está subindo, graças ao degelo das calotas polares, 0,9mm por ano. Ou seja, em 100 anos o nível dos oceanos subirá 90 milímetros. Este número não bate com os números da ONU onde os oceanos subirão 890 milímetros em 100 anos.

O motivo das discrepâncias é devido à complexidade dos modelos matemáticos e geológicos.

No caso da quantidade de água em bacias sedimentares, que é o estudo publicado pela NASA, a complexidade e o nível de inferência é muito maior ainda, o que irá gerar grandes erros.

Aquíferos estudados


No texto os autores concordam que os dados químicos e físicos são “ simplesmente insuficientes” , mas mesmo assim publicaram o estudo alarmista.

Um estudo, aliás, que começa pecando na sua conclusão (1/3 dos aquíferos estão diminuindo graças ao consumo humano).

O estudo peca, também pela falta de representatividade dos aquíferos estudados.

O mapa acima mostra a localização dos aquíferos. As cores indicam o nível em que esses aquíferos estão perdendo água. Ou seja: segundo o mapa está saindo mais água do que está entrando em um grande número de aquíferos.

Um bom exemplo da falta de representatividade é visto no mapa do Brasil onde só existem três grandes aquíferos mapeados pela NASA: Bacia do Amazonas, Bacia do Maranhão e Bacia do Paraná (aquífero Guarani).

A verdade geológica é que mais de 60% da área do Brasil está coberta por coberturas sedimentares que geram excelentes aquíferos (veja o mapa) e que foram “esquecidas” no estudo.

Principais bacias sedimentares brasileiras

O estudo simplesmente desconsiderou imensas bacias sedimentares como Parecis: 500.000 km2, S. Francisco 350.000 km2, Recôncavo 11.500 km2, Tucano 30.500 km2, Jatobá 5.000 km2, Camamu 2.000 km2, Pernambuco-Paraíba 8.000 km2, Potiguar 22.500 km2 e Ceará com 34.000 km2.

Um estudo que desconsidera “apenas” um milhão de quilômetros quadrados de importantes aquíferos, só no Brasil, não pode ser considerado muito sério.

A Bacia do Amazonas, por exemplo, jamais poderia sofrer exaustão por influência do Homem, pois as chuvas amazônicas são gigantescas e a região é quase que totalmente despovoada.

Já a conclusão de que o Aquífero Guarani, com 1.200.000 km2 de área e um volume de água simplesmente imenso, está tendo o seu volume de água reduzido por influência humana é simplesmente absurda.

O uso de água subterrânea do aquífero ainda é incipiente e ocorre principalmente em algumas regiões do Estado de S. Paulo, em áreas relativamente pequenas em Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Araçatuba, Presidente Prudente, Marília e Bauru.

Estudos preliminares em algumas dessas áreas mostram que, em alguns casos, o nível do aquífero está baixando.

O uso da água do Guarani é mínimo quando comparado com o volume total do aquífero.

A redução local do nível é um assunto sério e não pode ser desmerecido, mas extrapolar o que ocorre nestas áreas, para os 1.200.000 quilômetros quadrados do Guarani, é a mais absurda inferência.

Outra inferência grosseira do estudo é usar aquíferos localizados em regiões desérticas, sem precipitação pluviométrica significativa, para o estudo.

Muitos aquíferos estudados estão localizados na região do Saara, no norte da África.

É óbvio que nestas regiões, totalmente despovoadas, sem chuvas, qualquer diminuição do nível dos aquíferos não pode ser atribuída à população local que ainda usa a água dos raros oásis.

O mesmo ocorre na Austrália, na Arábia e na Sibéria, regiões despovoadas onde a população não pode ser culpada da redução de aquíferos gigantescos.

Quando comparamos a localização dos aquíferos estudados com a densidade demográfica (mapa abaixo) fica claro que a conclusão dos referidos “cientistas” é muito pouco embasada.
Densidade Demográfica Globo

É óbvio que existem várias regiões, como a Califórnia, onde a água subterrânea está sendo extraída em imensos volumes para uso humano, reduzindo significativamente os volumes dos aquíferos.

Mesmo assim os pesquisadores concedem que não sabem, com precisão, sobre os volumes de água, que podem variar imensamente. Apesar disto eles preferem soar o alarme hoje, para proteger o futuro da água amanhã.

Ou seja, o estudo, tido como um dogma pela mídia desinformada, não passa de uma alavancagem, um “whistleblower”, para colocar os holofotes sobre um possível problema futuro.

Para ilustrar o nível de erro do estudo, o cálculo para a exaustão de um aquífero do Nordeste do Saara varia, segundo os pesquisadores, entre 10 anos a 21.000 anos...

Este é o nível de precisão que eles trabalham.

E, para terminar, em nenhum lugar do trabalho eles dizem que “mundo poderá ficar sem água no futuro “ como a manchete do JB alardeia.

Mesmo porque a Terra é um sistema fechado onde a água muda de estado e de lugar, mas o volume total vai continuar o mesmo ao longo dos próximos milhões de anos.




Autor:   Pedro Jacobi - O Portal do Geólogo

  

 


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