A prata que ganhou a guerra
por
Pedro Jacobi
Quando os Estados Unidos
mergulharam na Guerra do Pacífico e sentiram a incrível resistência e
bravura dos soldados japoneses ficou claro que o país iria perder
milhões de soldados em batalhas.
Cada
pequena e insignificante ilha ou atol, no meio do pacífico, era
defendida pelos japoneses como se fosse a sua própria casa em Tóquio.
Foi então que os americanos jogaram todas as fichas
no mais avançado projeto da época: o Projeto Manhattan.
Manhattan era o codinome do
projeto que visava produzir a primeira bomba atômica. Até então a bomba
atômica só era possível na mente de alguns físicos teóricos que
acreditavam na teoria de Eintein e na equação E=mc2.
Segundo a equação que Einstein havia criado em 1905 a
energia gerada por uma pequena quantidade de matéria seria simplesmente
enorme e devastadora.
Foi atrás desta imensa liberação de energia, a partir
de uma bomba de urânio, que o Governo Americano empregou 130.000 pessoas
e investiu US$26 bilhões em dinheiro de hoje no Projeto Manhattan.
Eles confiavam que a bomba atômica seria decisiva na
Guerra do Pacífico contra o Japão. E, como bem sabemos, foi.
No início o projeto contemplava a
construção de bombas atômicas de urânio 235.
O
problema é que o U-235 é um isótopo de urânio que corresponde a apenas
0,7% do urânio natural e na época a tecnologia para a obtenção do U-235
era pouquíssimo eficiente.
O principal método de separação utilizado no Projeto
foi o eletromagnético. Este planta utilizava imensos imãs
eletromagnéticos chamados de calutron (foto abaixo) que separavam o
isótopo U-235 do U-238.

Os calutrons foram construídos dentro de um prédio
que foi considerado, na época, como o maior edifício do mundo. Eles eram
operados por garotas, as Calutron Girls (foto abaixo), que como quase
todo os empregados do Projeto Manhattan, nada sabiam sobre o que estavam
fazendo. Essas garotas tinham que manter os controles dos imãs dentro
das especificações informadas pelos físicos, um trabalho enfadonho, mas
que foi realizado perfeitamente.

A obtenção dos poucos quilos de U-235 necessários
para a construção das bombas, a partir das 1.750 toneladas de minério
compradas do Congo Belga, se mostrou muito mais complicada do que
imaginado. Assim que os calutrons começaram a funcionar os americanos
perceberam que o tempo para a obtenção do U-235 seria muito mais longo
do que o da própria guerra.
Era necessário multiplicar o número de calutrons. Só
tinha um problema...
Naquele estágio da guerra os Estados Unidos não
tinham mais cobre para construir os maciços imãs e eram necessários,
pelo menos, 5.000 toneladas de cobre para o próximo estágio.
Sem cobre o Projeto Manhattan estava literalmente
falindo.
Foi quando alguém teve a brilhante ideia de
substituir o cobre por prata.
E onde existiriam as 14.700
toneladas (47,3 milhões de onças)
de
prata que eram necessárias?
No depósito do Tesouro Americano em West Point.
Foi assim que o Tesouro Americano emprestou (como
bons banqueiros eles não doaram a prata: emprestaram) 47,3 milhões de
onças de prata ao Projeto Manhattan.
Em pouco tempo os gigantescos eletroímãs revestidos
de prata foram construídos e o U-235 foi, finalmente, obtido.
O resultado final é história.

Depois da guerra todo o equipamento que continha a
prata emprestada foi desmontado e fundido e, em 1970, a última prata
voltou aos cofres do Tesouro Americano.
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