Mineração Brasileira: até quando vamos perder bilhões?
A cada ano que passa o Brasil deixa de ganhar, para não dizer
empobrecer, bilhões de dólares. Em algumas décadas serão trilhões de dólares que
o país deixará de contabilizar por um simples motivo: falta de visão e de
competência de nossos governantes. Eu sei que você vai me dizer que já viu esse
filme antes e que isso é comum na economia nacional. Ocorre que este enorme
prejuízo pode ser evitado, no curtíssimo prazo e com investimentos mínimos - se
os nossos governantes quiserem, é lógico. Esse empobrecimento de que falo tem a ver com a gigantesca
transferência de dinheiro causada pela venda dos nossos direitos minerais,
minérios e empresas de mineração aos investidores estrangeiros. Não pense que se
trata de algum roubo feito pelos investidores. Nada disso! O que causa esse
prejuízo é a incapacidade que o Brasil, e suas instituições, tem em poder
financiar as empresas juniores de mineração. Aos investidores
estrangeiros cabem apenas nossos aplausos, pela iniciativa de investir na
produção brasileira e no Brasil, apesar de todas as dificuldades e riscos, convertendo sonhos minerais em realidade.
Sentar e esperar não é uma opção. Neste caso o Minerador irá perder o seu direito mineral pois a legislação mineral nos obriga a iniciar uma lavra, na pior das hipóteses, em 6 anos da data do recebimento do Alvará de Pesquisa.
2. Venda dos ativos da júnior, preferencialmente
a empresas de mineração já capitalizadas: de uma forma geral, essa opção é a
mais simples mas é também aquela que gera o menor retorno ao minerador, já que
as empresas compradoras costumam depreciar terrivelmente os ativos minerais,
como forma de reduzir drasticamente os riscos. As grandes mineradoras só cogitam
a compra de ativos minerais que elas possam controlar de forma absoluta: elas
querem nada menos do que 100%. Por isso, geralmente pagam valores muito baixos,
invocando o risco e a baixa maturidade do projeto. Caso o minerador júnior
queira vender apenas uma parte minoritária do seu projeto ele deve recorrer a
outros mineradores e demais entidades como bancos e grandes investidores, no que
chamamos de private placement. Tal modalidade é comum quando o
projeto já está em nível bastante avançado e com reservas calculadas, auditadas
e aceitas pelas bolsas de valores. Essa aceitação implica que os recursos
minerais foram avaliados conforme parâmetros aceitos pelas bolsas. É o caso do 43101 no
Canadá ou o JORC na Austrália e na Inglaterra - no Brasil,
somente agora estamos nos aproximando de um padrão JORC. Em geral, o prejuízo
comparativo é menor no caso dos private placements do que nas vendas dos ativos
totais. O private placement dá tempo de o projeto maturar e receber uma
avaliação financeira maior, o que pode implicar em um maior lucro no médio prazo. 3. IPO- Financiar o projeto vendendo
ações de sua empresa nas bolsas estrangeiras: o motivo
que obriga o minerador em bolsas do exterior o financiamento para desenvolver
projetos no Brasil é simples: a Bovespa não costuma fazer ofertas públicas de
ações (IPO) menores que trezentos milhões de reais (veja
a tabela abaixo). Ou seja: não existe no Brasil uma bolsa que possa financiar as
empresas juniores que, na fase inicial precisam de financiamentos de poucos
milhões a dezenas de milhões de dólares, raramente atingindo a oferta de
centenas de milhões que a Bovespa exige. Neste caso, ao minerador júnior resta
apenas o financiamento via bolsa estrangeira. Uma vez escolhida esta opção, o minerador júnior passará por
um longo processo de certificação e de auditagem técnica, financeira e legal da
sua empresa e dos seus ativos. Este processo é marcado por um enorme nível de
detalhamento, e os custos legais e operacionais acompanham tal enormidade. As
principais bolsas de valores para juniores (Toronto, Londres ou Sydney) exigem
inúmeras garantias, sempre com o intuito de proteger seus investidores, que
terão acesso aos papéis da júnior brasileira. Nosso bravo minerador deverá passar por um estressante
processo de due diligence, de certificação e avaliação de si, de sua
equipe e dos seus ativos. São poucos aqueles que conseguem passar pelo crivo das
bolsas, das empresas que estas contratam para a auditagem e dos investidores. Se
o minerador brasileiro tem dinheiro para bancar esses custos iniciais, é
realmente competente e o seu projeto e equipe estão muito acima da média mundial,
ele terá sua empresa aferida dentro da visão do mercado e dos investidores. Esse
é o valuation, o número mágico que irá contar ao mercado o
quanto a sua empresa ou projeto valem no momento do IPO. A partir desse valor, a
empresa pode emitir ações na bolsa que, se forem compradas, irão financiar os
programas futuros da empresa. A cada nova necessidade de fundos a junior company listada
poderá fazer uma nova emissão de ações recebendo em troca um novo financiamento. Esse resumo acima minimiza as milhares de horas de trabalho,
as incontáveis reuniões no Brasil e fora dele, as incessantes teleconferências,
as viagens ao campo, as amostragens adicionais, as sondagens, os laudos
geológicos e legais, os trabalhos de engenharia, metalurgia, logística e
infraestrutura, as reuniões com mandatários, políticos, donos das terras e com
os qualified geologists, advogados e engenheiros. Um IPO bem sucedido
custa milhões de dólares. Não há como evitar!!! Se você não tem esse capital
inicial só lhe resta vender parte de sua empresa agora, quando você ainda
controla os direitos minerais, a alguém que possa lhe ajudar no processo da
oferta pública no exterior. Após o IPO tudo parece lindo e maravilhoso. A empresa está
listada e capitalizada podendo então investir confortavelmente nos seus projetos. No
entanto, a realidade é diferente... Após a oferta, a júnior tem novos donos: os
acionistas. Serão eles que irão influenciar os rumos e decisões a serem tomadas
no futuro. pós-IPO. É neste momento que o Brasil começa a perder bilhões: quando
o minerador brasileiro faz um IPO, uma venda ou um private placement no
exterior e não aqui no nosso país, ele está vendendo ao investidor estrangeiro
os direitos minerais e a jazida. Como a maioria dos mineradores, por questões
financeiras e por não terem uma alternativa de financiamento no Brasil, vendem a
maioria das ações de sua empresa no exterior, é o mesmo que a dizer que a
maioria das riquezas minerais encontradas no subsolo brasileiro passam a
pertencer ao investidor estrangeiro. Desta maneira, a cada ano, vendemos nas
bolsas de Toronto, Londres e Sydney a maioria das novas descobertas minerais do
Brasil. Já que a maioria das ações destas empresas são vendidas no momento do
lançamento destas ações, no IPO, quando os preços estão, teoricamente no mínimo,
estamos vendendo a preço de banana o nosso patrimônio. Simples, não é?
E o que o Brasil está fazendo para evitar isso? Praticamente
nada! A solução para que esse patrimônio fique no Brasil é permitir
ao investidor brasileiro, que atua na bolsa brasileira,
comprar essas ações das juniores brasileiras que ora são vendidas no exterior.
Para isso, o país precisa criar uma bolsa de valores que esteja equipada para
trabalhar com esse modelo. Há exemplos de grandes mudanças trazidas pelas
juniores lá fora: no Canadá, os papéis dessas mineradoras alavancaram de tal
forma a bolsa de Toronto (TSX) que o país, cujo Produto Interno Bruto é inferior
ao do Brasil, tem uma bolsa maior que a nossa Bovespa. Fenômeno semelhante
poderia ocorrer no Brasil, caso o país fosse dotado de uma bolsa preparada para
o financiamento das juniores de mineração - que operaria não somente com as
juniores com projetos minerais no país mas, também, com a maioria das empresas
de mineração da América do Sul e África que hoje pegam o rumo de Canadá,
Inglaterra e/ou Austrália em busca de financiamentos.
Muito já se falou sobre a Bovespa acomodar ofertas públicas
de juniores mas, até o momento, tudo ficou em promessas. Chegou-se a criar o Bovespa
Mais, cujo objetivo era, exatamente, o de tornar o mercado de ações
brasileiro acessível a um número maior de empresas, especialmente àquelas que
desejam entrar no mercado aos poucos, como empresas de pequeno e médio porte. Infelizmente o projeto não deu certo e, nos últimos 5 anos
somente uma empresa, a Nutriplant, foi listada no Bovespa Mais (veja na tabela
abaixo). É preciso bem mais... muito mais!!! Nos últimos anos as grandes mineradoras, como Rio Tinto, BHP
Billiton, Vale e Anglo American reduziram significativamente os seus
investimentos em pesquisa mineral no mundo. Cada vez mais, estas gigantes do
setor preferem comprar os depósitos minerais recentemente descobertos do que
investir em pesquisa e descobertas próprias. E quem descobre a maioria desses
depósitos são, consequentemente, as juniores da mineração. Este vazio deixado
pelas major companies configura, na realidade, uma excelente oportunidade
às juniores que agora podem dominar as principais jazidas minerais brasileiras
que estão por ser descobertas. No entanto, se não houver uma bolsa preparada
para estas mineradoras brasileiras, o ciclo de financiamentos do circuito
Toronto-Londres-Sydney, que leva à transferência das nossas riquezas minerais à
estes investidores, não vai acabar. Nesta última década, a maioria dos grandes depósitos de ferro,
ouro, fosfato e potássio do Brasil foi descoberta pelas juniores. Empresas como Octa-Majestic,
O2iron, Rio Verde, Bahia Mineração, Magellan, Golden Tapajós, Aura Minerals,
Brazauro, Talon, Mirabella e Verena encontraram jazimentos que irão gerar vários
trilhões de dólares de receita, e a grande maioria destes depósitos
minerais foi vendida aos investidores estrangeiros em bolsas de valores do
exterior porque nós, no Brasil, não temos um mercado de ações acessível às
pequenas mineradoras. Portanto, amigo minerador de pequeno ou médio porte, se nos ativos de
sua empresa existe um belo depósito mineral ainda inexplorado e o seu caixa não
é suficiente para transformá-lo em um empreendimento mineiro econômico, não se
desespere. Arregace as mangas, coloque na carteira um mínimo de um milhão de
dólares para fazer frente às despesas, cerque-se do melhor pessoal, com
experiência internacional, que o dinheiro pode comprar e vá em busca de
financiamentos no exterior; infelizmente, não será no no Brasil que você vai
encontrar.
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