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Mineração Brasileira: até quando vamos perder bilhões?Por Pedro Jacobi A cada ano que passa o Brasil empobrece bilhões de dólares. Em algumas décadas serão trilhões de dólares que o País deixará de contabilizar por um simples motivo: falta de visão e de competência daqueles que governam o País.
Não pense que se trata de algum roubo feito pelos investidores. Nada disso! O que causa esse prejuízo é a incapacidade que o Brasil, e suas instituições, tem em poder financiar as empresas juniores de mineração. Aos investidores estrangeiros cabe aplaudir por investir na produção Brasileira e na conversão de um sonho mineral em realidade. Aos nossos Governantes, que fazem vistas grossas à dilapidação do nosso patrimônio, cabe o nosso repúdio.
Todos sabemos que mineração é para experts com muito dinheiro: dinheiro de risco. Esse é o dinheiro mais difícil de encontrar. Somente os Mineradores com liquidez ou os investidores das bolsas de valores costumam enfrentar este desafio.
De uma forma geral essa opção é a mais simples mas também àquela que gera o menor retorno ao Minerador, já que as empresas compradoras costumam depreciar terrivelmente os ativos minerais, reduzindo drasticamente os riscos. As grandes mineradoras só cogitam na compra de ativos minerais que elas possam controlar de forma absoluta: elas querem nada menos do que 100%. Por isso elas geralmente pagam valores muito baixos alegando o risco e a baixa maturidade do projeto. Eu conheço bem esse processo pois trabalhei e gerenciei algumas das maiores majors do mundo por mais de 28 anos. Caso o Minerador junior queira vender apenas uma parte minoritária do seu projeto ele deve recorrer a outros Mineradores e demais entidades como bancos e grandes investidores: é o private placement. Private placements são comuns quando o projeto já está em nível bastante avançado e com reservas calculadas e aceitas pelas bolsas de valores. Essa aceitação implica que os recursos minerais foram avaliados conforme parâmetros aceitos pelas bolsas. É o caso do 43101 no Canadá ou o Jorc na Austrália e Londres. No Brasil estamos nos aproximando de um padrão Jorc. Em geral o prejuízo comparativo é menor no caso dos private placements do que as vendas dos ativos totais. O private placement dá tempo do projeto maturar e receber uma avaliação financeira maior.
O motivo que obriga ao Minerador a buscar financiamento em bolsas do exterior é simples: a Bovespa não costuma fazer lançamento de ações (IPO) menor que trezentos milhões de Reais (veja a tabela abaixo). Ou seja, não existe no Brasil uma bolsa que possa financiar as empresas juniores que, na fase inicial precisam de financiamentos de poucos milhões a dezenas de milhões de dólares, raramente atingindo um IPO de centenas de milhões de dólares que a Bovespa exige. Neste caso ao Minerador junior resta apenas o financiamento via bolsa estrangeira. Ele irá passar por um longo processo de certificação e de auditagem técnica, financeira e legal da sua empresa e dos seus ativos. O nível de detalhamento é enorme. Os custos legais ídem. A Bolsa de Valores, seja de onde for, Toronto, Londres ou Sydney vai exigir inúmeras garantias, sempre com o intuito de proteger aos seus investidores que irão comprar a ação da junior brasileira. O Minerador após passar por um estressante processo de due diligence, de certificação e avaliação de si, da sua equipe e dos seus ativos - são poucos que conseguem passar pelo crivo das bolsas e dos investidores. Se o Minerador brasileiro é realmente competente e o seu projeto e equipe são bem acima da média mundial ele terá a sua empresa aferida dentro da visão do mercado e dos investidores. Esse é o valuation, o número mágico que irá contar aos demais investidores o quanto a tua empresa ou projeto valem no momento do IPO. A partir desse valuation ele pode emitir ações na bolsa que, se forem compradas, irão financiar os programas futuros da empresa. Esse resumo acima minimiza as milhares de horas de trabalho, as incontáveis reuniões no Brasil e fora dele, as incessantes conference calls, as viagens ao campo, as amostragens adicionais, as sondagens, os laudos geológicos e legais, os trabalhos de engenharia, metalurgia, logística e infraestrutura, as reuniões com mandatários, políticos, donos das terras e com os qualified geologists, advogados e engenheiros.
Um IPO mal sucedido custa o mesmo, portanto tenha extremo cuidado antes de embarcar nesta viagem. Após o IPO tudo parece lindo e maravilhoso. A empresa está listada e capitalizada podendo então investir confortavelmente nos seus projetos. No entanto a realidade é um pouco diferente... É aqui que o Brasil começa a perder bilhões pois quando o Minerador brasileiro faz um IPO, uma venda ou um private placement no exterior e não aqui no nosso País ele está vendendo ao investidor estrangeiro os direitos minerais e a jazida. Como a maioria dos Mineradores, por questões financeiras e por não terem uma alternativa de financiamento no Brasil, vendem a maioria das ações de sua empresa no exterior equivale a dizer que a maioria das riquezas minerais encontradas no subsolo brasileiro passam a pertencer ao investidor estrangeiro. Desta maneira, a cada ano, vendemos nas bolsas de Toronto, Londres e Australia que são as principais bolsas que comercializam ações de junior companies no mundo, a maioria das novas descobertas minerais do Brasil. Como a maioria das ações destas empresas são vendidas no momento do lançamento destas ações, no IPO, quando os preços estão, teoricamente no mínimo, estamos vendendo a preço de banana o nosso patrimônio. Simples não é? Você pode estar se perguntando se isso é significativo ou não. A resposta é sim,
muito significativo!!! Estou falando de trilhões de dólares
perdidos pelo Brasil somente nestas últimas décadas. A solução para que esse patrimônio fique no Brasil é permitir ao Investidor Brasileiro, que atua na bolsa brasileira, comprar essas ações das juniores brasileiras que ora são vendidas no exterior. Para tal deve ser criada uma bolsa de valores que esteja equipada para trabalhar com esse modelo. Só como exemplo as ações das junior companies de mineração alavancaram de tal forma a TSX a Bolsa de Valores do Canadá, que ela se transformou em uma das maiores bolsas do mundo. Isso poderia também ocorrer no Brasil se tivéssemos uma bolsa preparada para o financiamento das juniores de mineração. Essa bolsa iria operar não somente com as Juniores do Brasil mas, também, com a maioria das empresas de mineração da América do Sul e África que hoje migram para o Canadá, Londres e Austrália em busca de financiamentos. Não criar essa opção que só benefícios trará demonstra a miopia do Governo Brasileiro. Muito já se falou sobre a Bovespa acomodar IPOs de Junior Companies mas , até o momento, tudo ficou em promessas. Foi criada o Bovespa Mais cujo objetivo era, exatamente, o de tornar o mercado de ações brasileiro acessível a um número maior de empresas, especialmente àquelas que desejam entrar no mercado aos poucos, como empresas de pequeno e médio porte. Infelizmente o projeto não deu certo e, nos últimos somente uma empresa, a Nutriplant, foi listada no Bovespa Mais (veja na tabela abaixo). É preciso bem mais...muito mais!!! Nos últimos anos as major companies ou grandes empresas de mineração como a Rio Tinto, Billiton, Vale e Anglo reduziram significativamente os seus investimentos em pesquisa mineral no mundo. A cada dia que passa estas gigantes da mineração preferem comprar os depósitos minerais recentemente descobertos do que investir em pesquisa mineral e nas descobertas. Quem descobre a maioria desses depósitos são as juniores da mineração. Este vazio deixado pelas Major Companies configura, na realidade uma excelente oportunidade às juniores que agora podem dominar as principais jazidas minerais brasileiras que estão por ser descobertas. No entanto, se não houver uma bolsa preparada para estas mineradoras brasileiras, o ciclo de financiamentos no Canadá, Londres e Sydney que leva à transferência das nossas riquezas minerais à estes investidores, não vai acabar. No Brasil, nesta última década, a maioria dos grandes depósitos de ferro, ouro, fosfato e potássio foram descobertos pelas junior companies. São jazimentos que irão gerar vários trilhões de dólares de receita como os descobertos pela O2iron, Rio Verde, Bahia Mineração, Magellan, Golden Tapajós, Aura Minerals, Brazauro, Octa-Majestic, Talon, Mirabella, Verena e várias outras mineradoras de pequeno porte. A grande maioria destes depósitos minerais foi vendida aos investidores estrangeiros em bolsas de valores do exterior porque nós, no Brasil, não temos um mercado de ações acessível às pequenas mineradoras. Portanto, amigo minerador de pequeno/médio porte, se na sua empresa existe um belo depósito mineral ainda inexplorado e o seu caixa não é suficiente para transformá-lo em um empreendimento mineiro econômico não se desespere. Arregace as mangas, coloque na carteira um mínimo de um milhão de dólares para fazer frente às despesas, cerque-se do melhor pessoal, com experiência internacional, que o dinheiro pode comprar e vá em busca de financiamentos no exterior pois aqui no Brasil você não vai encontrar. Veja abaixo que somente uma empresa pequena, a Nutriplant, fez o IPO em 2008 na Bovespa usando o Bovespa Mais. Ela levantou um capital de R$21 milhões.
Um fracasso total! Nesta década de 2000, somente na Bolsa de Toronto, no Canadá foram feitos 296 IPOs que totalizaram 4 bilhões de dólares. As descobertas minerais geradas por esses financiamentos totalizam mais de 100 bilhões de dólares, distribuídas em vários países inclusive o Brasil. Esses são números maiúsculos que certamente deveriam interessar a qualquer governante do planeta...
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